O que você quer encontrar?
* Bob Villela
É sempre assim. Não sei por onde andava com minhas letras, que nem percebi. As páginas embaralhadas de tanto ler notícias deste mundo em pane — como se em algum tempo o mundo tivesse sido um lugar sereno, tranquilo.
Ela estava ali, aqui, acolá, como o pato na canção de Toquinho, Vinícius e Paulo Soledade. Mas, ao contrário da ave traquina em versos, o ritmo da realidade não era exatamente envolvente. Em vez de patos, pataquadas. Em tantos seres, tantas vezes, a lucidez, a nitidez e a esperança sucumbiram à ignorância. Ela, que é ignóbil, asquerosa, complacente. Instância inequívoca do lapso recorrente. Que pode levar gente, conquistas e nações para o lixo da história.
Páginas trágicas, não raro, acordam e prosperam quando estamos dormindo, fechados simplesmente em formato livro, mas inertes, sem interação e, logo, sem sentido. E quando os leitores não nos abrem, fecham-se também para a liberação do que é essencial à humanidade: o conhecer e o pensar.
A solução para algo, e evolução de um tempo, a compreensão de um jeito, a força estranha que Caetano canta, tudo isso pode estar bem perto. Mas, geralmente, só ganha corpo quando somos abertos.
Os textos que compõem nosso estar no mundo terão, invariavelmente, trechos infelizes. Não há leitura capaz de evitar os dissabores de uma jornada. Quanto a esta certeza, estamos na mesma página. Contudo, nada pode ser mais forte que a interpretação da história com olhos mais potentes, através da lente de quem lê. Daí, diante do inevitável que se impõe, abrem-se o peito, os olhares, os braços e o coração.
Quem nos lê pode se livrar de muitos males, entre os quais a ignorância. Para, ainda que lentamente, agir com autonomia, autocrítica e altivez contra o vazio. Ser voz ativa e o invés de toda baixaria. E, enfim, de tanto ler o mundo, reunir coragem para dar a Capa a Tapa e ter a autoria de uma história digna.