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*Aurora Miranda Leão
O Dia Nacional do Teatro é celebrado no Brasil em 19 de setembro, data instituída em 2013 através do Projeto de Lei nº 6.139/13, para reverenciar a Arte Milenar do palco, uma das mais relevantes e consolidadas expressões artísticas da humanidade. A escolha da data refere à fundação do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), marco importante para as Artes Cênicas do país.
Anos depois, em 2017, foi sancionada Lei que institui a data também como Dia Nacional do Teatro Acessível: Arte, Prazer e Direitos, objetivando referendar o significado de fazer/divulgar e estimular a produção artística, por meio de atividades cênicas que utilizem práticas de acessibilidade física e comunicacional. Portanto, 19 de setembro é também dia propício à reflexão acerca da importância da inclusão de todas e todos no ambiente dos direitos culturais.
TEATRO, A ARTE MILENAR
O Teatro nasceu, vive e se perpetuará junto ao humano. À primeira vista, essa afirmação pode soar estranha ou muito utópica mas não nos referimos à essa arte milenar conforme naturalizou-se no Ocidente, a partir de um edifício cujo cerne é o palco italiano.
Entendemos os primeiros registros conhecidos sobre manifestações coletivas, inscrições rupestres e homens sentados em volta de uma fogueira – contando sobre sua jornada diária, as dificuldades enfrentadas, dúvidas, medos, incertezas, enquanto outros homens escutam com atenção -, já como sinal inaugural do que mais tarde viria a ser chamado teatro.
Ao contrário do que comumente é divulgado, não foram os gregos quem o criaram, eles apenas tomaram a dianteira, definiram o nome e o declararam. Foram bastante espertos sim, mas outros poderiam tê-lo feito igualmente.
A teatralidade é intrínseca ao ser humano, cujo mais importante e longevo lugar de fala é a rua, são os espaços abertos de toda cidade, nos quais há ampla produção de sentidos e motiva-se uma avalanche de imaginários. Destarte, os genes da dramaticidade não foram germinados em alguma construção edificada, em prédio de acesso restrito, ao qual só uma dúzia de privilegiados teve acesso.
Ancestralidade do Teatro
A prática do teatro faculta o contato com pessoas de diferentes mentalidades, dos mais diversos níveis sociais/culturais/intelectuais/políticos/sentimentais e, a partir disso, a porta da sensibilidade humana se amplia, evidenciando o quanto somos diferentes e, ao mesmo tempo, o muito de semelhante coexistindo nessas dessemelhanças.
É possível afirmar que o Teatro está nas entranhas de nossa brasilidade:
A cartilha em que o Brasil aprendeu a ler foi o teatro. O autor dessa cartilha, Anchieta. Nascíamos então das cinzas dos “fins do teatro medieval”, como Antônio José Saraiva entendeu o texto de Gil Vicente. [...] Aqui o teatro se tornaria o nosso livro de leitura e recordaria saudades e tristezas aos portugueses naqueles primeiros cinquenta anos da nossa existência. [...] Ao índio, os portugueses iriam mostrar uma nova forma de ritmo, de rito, novas cores, novas danças, exatamente aquelas coisas pelas quais nós conseguimos a liberação da atormentada rotina e das insatisfações e satisfações da vida. (CAFEZEIRA & GADELHA, 1996, p 19).
Além dessa gênese indubitável, a arte do teatro é valorosa para a formação humanística porque através dela o homem tem privilegiada chance de conhecer-se a si mesmo.
No ato de exercitar-se teatralmente, o atuante precisa observar com atenção as ações humanas, os movimentos sociais, o entorno onde vive, informar-se, nutrir-se de conhecimento. Ao fazê-lo, vai percorrendo uma estrada que o conduz ao encontro de si mesmo.
Drama significa ação e o criador de vínculos da dramaturgia é o diálogo, assim como a essência do teatro é a contracena. No transcurso da representação, o universo dramático instaura-se por meio da movimentação das personagens. Sem desconhecer a existência e importância dos monólogos, praticar o jogo cênico é estar pronto para trocar, dialogar, contracenar com o outro.
A riqueza dessa experiência é tanto maior quanto mais pessoas estiverem partilhando, e é coisa bonita demais de se ver um espetáculo com muitos atores e atrizes em cena. A etimologia grega de teatro remete ao sentido de miradouro, lugar de onde se vê. Já o edifício construído para a prática da encenação era conhecido como odeion (auditório) enquanto a plateia atendia por teatron, anteposta à orquestra e envolvendo-a como três lados de um trapézio ou um semicírculo, logo, a ideia de visão não se dissocia da prática teatral.
Como diz o teatrólogo francês, Denis Guénoun (2004), “O teatro é uma atividade que abarca duas atividades ao mesmo tempo, o ver e o fazer”.
Saiba mais: https://sbat.com.br/19-de-setembro-dia-nacional-do-teatro/
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