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Sem Machado de Assis, ficamos todos mais pobres

29 setembro, 2025

*Aurora Miranda Leão

          No bucólico Cosme Velho, zona sul do Rio de Janeiro, no sopé do morro do Corcovado, casa 18, corria a madrugada de 29 de setembro de 1908. Naquele dia, o país perdia uma das figuras mais proeminentes de sua Cultura, o escritor carioca Joaquim Maria Machado de Assis. E lá se vão 117 anos.

Amigos e admiradores deixam velório de Machado de Assis na sede da ABL. (Foto: acervo ABL).

           Com 69 anos, o escritor vivia castigado pela epilepsia e foi levado por um câncer, deixando um legado que o tempo encarrega-se de agigantar.

           “As revelações de que Machado de Assis morreu com a cor branca (e não mulato), de arteriosclerose generalizada (e não de câncer na língua), e às 3:20 da madrugada de 29 de setembro de 1908 (e não às 3h45min), foram surpreendidas, agora, na leitura da peça inicial do seu inventário: o atestado de óbito”.

           Era assim que a lendária revista Manchete abria a reportagem sobre os cinquenta anos da morte do maior escritor brasileiro de todos os tempos. No atestado, o nome foi escrito como José Maria Machado de Assis e não Joaquim Maria Machado de Assis.

          Em 1958, o então Presidente Juscelino Kubitschek aprovou um despacho declarando a obra do notável escritor de “Dom Casmurro” como sendo de domínio público, possibilitando maior divulgação dos seus livros.

  Na madrugada do dia 29 de setembro de 1908, Machado de Assis agonizava. Acompanhando seus últimos suspiros, estavam Euclides da Cunha (seu grande amigo), Rodrigo Otávio e José Veríssimo. Dias antes, o Barão de Rio Branco o visitou na famosa casa no Cosme Velho. “Vamos, seu Machado… Que é isso? Coragem!”

Não adiantou a tentativa do Barão em reanimá-lo: Machado de Assis suspirou pela última vez. O corpo foi velado na Academia Brasileira de Letras, tendo Rui Barbosa como orador da despedida: “Era uma sua alma um vaso de amenidade e melancolia”.

A revista O Cruzeiro, recordando os cinquenta anos da morte de Machado de Assis, noticiava que a casa onde o Bruxo do Cosme Velho morreu já não existia mais. Apenas uma plaquinha indicando o lugar. “Quem por ali passava e lia a placa, parava um instante e, respeitosamente, respirava um pouco da atmosfera machadiana.”

Na TV, Teatro e Cinema

Diversas criações de Machado de Assis foram parar em palcos do país, nas telas do cinema e ganharam novas roupagens na telinha. Dentre essas, citamos: "Memórias Póstumas", filme de comédia dramática, dirigido por André Klotzel (2001), com Reginaldo Faria como Brás Cubas. O filme "Dom", dirigido por  Moacyr Goés, foi lançado no Festival de Gramado em 2003., e no triângulo amoroso estão Marcos Palmeira, Maria Fernanda Cândido e Bruno Garcia.

Em 2008, a TV Globo produziu e exibiu a minissérie "Capitu", inspirada em "Dom Casmurro", com direção de Luiz Fernando Carvalho, tendo Maria Fernanda Cândido (Capitu) e Michel Melamed (Bentinho) como protagonistas.  No Cinema, o querido Julio Bressane, expoente do Cinema Marginal e um dos mais relevantes cineastas do Brasil, trouxe sua interpretação para o clássico machadiano com "Capitu e o Capítulo" (2021), lançado em 2023.

E não para por aí: todo ano, tem alguém ou algum grupo, pensando e trabalhando na transposição da obra machadiana para algum espaço de criação artística. Ano passado, por exemplo, uma parceria entre A Casa Que Fala e a Tomate Produções, realizadoras independentes, levou ao palco o musical "Dom Casmurro", que prosseguiu com apresentações no primeiro semestre deste ano. No elenco, a atriz Luci Salutes viveu Capitu, enquanto o ator Rodrigo Mercadante era Bentinho. 

A produção teve direção geral de Zé Henrique de Paula; letras/músicas e direção musical de Guilherme Gila, dramaturgia de Davi Novaes e direção de movimento de Zuba Janaín. Provas de que as obras de Machado de Assis continuam rendendo frutos, sendo recontadas em novas linguagens e formatos, e espraiando-se em diversos territórios artísticos e culturais.

Porém, cabe ressaltar: a primeira obra de Machado de Assis a ficar acessível ao público, via televisão, foi "Helena", em 1975, que virou telenovela de enorme sucesso no horário das 18ih. Foi a primeira incursão da emissora carioca na seara de adaptações literárias Realizada e exibida pela TV Globo, "Helena" inaugura as adaptações da Literatura Brasileira no horário das 6 da emissora. A trama foi adaptada por Gilberto Braga e dirigida por Herval Rossano, tendo Lúcia Alves e Osmar Prado vivendo os personagens principais.

Legado

A importância de Machado de Assis reveste-se do mais alto teor, tendo o notável escritor elevado a literatura brasileira a um patamar universal. Consagrado como principal nome do Realismo, Machado foi precursor de uma escrita ousada e admirável, radiografando a condição humana com originalidade exemplar.

Sua obra, até hoje influenciando gerações de escritores, é cada vez mais procurada, revista e atualizada por sua profundidade psicológica, ironia e constante reflexão sobre a hipocrisia, o egoísmo e a vaidade humana, a ele creditando o epíteto de ser um dos maiores gênios da literatura mundial, ao lado de nomes como Shakespeare e Dostoiévski. 

Luminar da Literatura, Machado de Assis é trunfo da Cultura do Brasil.

Legado e Influência:

  • Definiu o Realismo no Brasil: 

Machado de Assis foi o principal nome do movimento realista brasileiro, trazendo uma análise profunda e crítica da sociedade e do comportamento humano. 

  • Fundação da Academia Brasileira de Letras (ABL): 

Criou a Academia Brasileira de Letras (ABL) e foi seu primeiro presidente, consolidando-se como figura de autoridade e prestígio no cenário intelectual. 

  • Exemplo: 

Sua obra influenciou grandes nomes da literatura brasileira, como Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, e até mesmo autores internacionais, demonstrando sua relevância transcontinental. 

Saiba mais: https://machado.mec.gov.br/

https://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia

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